O problema está bem identificado: apesar de os automóveis serem cada vez menos poluidores (consequência da aplicação das Normas EURO e do esforço de redução das emissões de CO2), o aumento exponencial do número de veículos em circulação é mais do que suficiente para contrariar (e eliminar) essa vantagem. Para se ter uma ideia, entram diariamente em Lisboa cerca de 400 mil veículos, muitos deles apenas como tráfego de atravessamento, outros fazendo parte dos chamados movimentos pendulares casa-trabalho, outros simplesmente para que os seus proprietários se desloquem a Lisboa para consumir e passear. O que leva aos congestionamentos que se vêm hoje em dia nos principais acessos à cidade (A5, IC19, A1, A2, Calçada de Carriche...), que se tente minimizar o problema aumentando o número e a dimensão das rodovias.
Mais vias de tráfego conduzem no curto prazo a uma melhoria efectiva das condições de circulação, mas no médio-longo prazo trazem apenas mais congestionamento devido ao fenómeno de indução, uma vez que um maior número de pessoas tenderá a utilizar o transporte individual devido ao aumento da sua atractividade . Veja-se o exemplo do IC19 (cada vez mais faixas e mais trânsito) da radial de Benfica (no início muito prática para quem regressava da margem sul, agora está impossível em hora de ponta). Isto tendo em conta que em média cada veículo transporta cerca de 1,2 passageiros... uma média que nos deve deixar orgulhosos, com toda a certeza.
A liberdade de cada um usar carro próprio nas suas deslocações interfere negativamente com a liberdade dos outros terem uma boa saúde (sobretudo os Lisboetas que são quem sofre mais com a poluição atmosférica na cidade). Tendo em conta este facto, torna-se imperativa uma mudança de hábitos com vista a reduzir o número de carros que entram diariamente em Lisboa. Estes têm um impacto muito significativo em termos económicos e de saúde pública (não só em Portugal, mas um pouco por todas as principais cidades Europeias) pois a poluição atmosférica é responsável por 310.000 mortes prematuras na Europa todos os anos, mais do que as causadas por acidentes rodoviários. O custo estimado para a economia europeia varia entre € 427 e € 790 mil milhões por ano.
Daí que hoje em dia se fale cada vez mais de medidas disciplinação do tráfego automóvel com vista à melhoria da qualidade do ar, aplicadas em várias cidades europeias. Entre estas medidas inclui-se a criação de Zonas de Emissões Reduzidas, onde não possam entrar veículos que não cumpram, pelo menos uma determinada norma de emissões (EURO I ou EURO II, por exemplo), reorganização da oferta de estacionamento tarifado e aumento da fiscalização do estacionamento ilegal, a melhoria do desempenho ambiental de frotas cativas (como os táxis e os veículos de recolha de RSU)e o aumento da atractividade dos transportes colectivos (com por exemplo maior número de km em corredor BUS, e melhoria da interligação entre modos de transporte público e a criação de parques periféricos que estimulem o park & ride). Isto para não ir tão longe como as portagens à entrada das cidades ou a congestion charge de Londres.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Liberdade Poluída
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário