sexta-feira, 12 de março de 2010

Ora nem mais

Uma das primeiras palavras de ordem de que me lembro, de miúda, é "os ricos que paguem a crise". Nos últimos dias tenho ouvido com mais frequência "a classe média que pague a crise". E está mal. Quem tem de pagar a crise são os chico-espertos, sejam eles ricos, classe média, remediados ou pobres.


Eu explico. Quem tem de pagar a crise é o caramelo que em vez de se pré-reformar negoceia com a empresa uma saída (com indemnização), e depois vai receber o subsídio de desemprego, enquanto espera pelo prazo da reforma. Este gajo vai a entrevistas de emprego (que não quer), porque a isso é obrigado pelo centro de emprego. Não só anda a chular o estado (portanto, nós todos), como anda a fazer perder o tempo a recursos que deveriam estar ocupados com coisas mais produtivas e construtivas.


Quem tem de pagar a crise é a cabra que tem o exacto número de filhos que lhe garanta a subsistência com base no abono de família e de outros incentivos à natalidade, enquanto o marido (marido não, que se forem casados o esquema não funciona), o "pai dos filhos" usufrui do rendimento mínimo. E não fazem um boi, porque não querem.


Quem tem de pagar a crise é a senhora que é fraca dos nervos, e que está de baixa há 10 anos (enquanto vai fazendo a sua vidinha de reformada), e que no dia em que se pode reformar, deixa o trabalho (onde não ia há 10 anos e onde provavelmente já não a conhecem nem se lembram dela) e reforma-se e continua a fazer a mesma vidinha.


Quem tem de pagar a crise é o gajo que manda fechar a varanda e que paga em dinheiro, sem recibo, para ser mais barato, sem IVA.


Quem tem de pagar a crise é a besta que recebe dinheiro através de manigâncias e engenharias financeiras, para que os rendimentos não sejam apanhados no "radar".


Quem tem de pagar a crise é o gajo que recebe uma pipa de massa, mas como é dono da empresa, declara o salário mínimo.


E os exemplos podiam continuar, o português é um povo de chico-espertos, cheio de recursos, desenrascados, e eu tenho para mim que deviam ser estes a pagar a crise.


Não deviam ser os tansos que fazem a coisa não só de acordo com as regras, mas de acordo com a sua consciência.


E não me venham com as tretas das generalizações. Há-de haver muita gente a receber o rendimento mínimo que precisa de facto dele, e por cada exemplo negativo que dei, hão-de existir muitos no sentido inverso, mas a verdade é que toda a gente conhece casos deste tipo, que estão tão generalizados que já nem se estranham.


Mas, como sempre. quem vai pagar a crise, são os tansos. Os da mama, vão continuar a mamar.

Maria João, no Jonasnuts

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