segunda-feira, 2 de março de 2009

Um bom resumo do negócio CGD-Manuel Fino

O negócio em causa é escandaloso, não obstante poder-se tratar por parte da CGD de uma tentativa de mitigar as perdas num empréstimo.

É escandaloso, porque um financiamento para comprar titulos no mercado de capitais, é intrisecamente diferente de um financiamento para investir numa empresa ou para um particular consumir e pagar do seu fluxo de rendimento futuro. Nestes últimos casos, o fluxo de rendimento que sustentará o endividamento é, sempre, potencialmente incerto e perante uma evolução desfavorável poderá resultar em incumprimento e necessidade de uma renegociação.

Já num financiamento para especular no mercado de capitais, a cotação presente do titulo financiado é conhecida diariamente. Assim, quando esse financiamento é contraído, é suposto o devedor apresentar desde logo garantias em excesso do financiamento (geralmente, os próprios titulos financiados, mais um depósito de titulos ou dinheiro que constitui o excesso). Perante a evolução diária da cotação do titulo financiado, a instituição bancária pode sempre verificar se esse excesso de garantia, a chamada "margem de manutenção", se mantém acima de um dado valor. E se não mantiver, a instituição bancária pode, imediatamente, pedir um reforço das garantias ou a sua execução.

Esta execução, enquanto ainda existem excessos de garantias face ao valor financiado, não necessita de uma negociata. Trata-se simplesmente de vender titulos financiados até ao ponto em que se repõe a margem de manutenção (que constitui a margem de segurança da instituição bancária). Assim, excepto perante um acontecimento catastrófico instantâneo, é quase impossível a uma instituição bancária bem gerida perder dinheiro a financiar a transacção de titulos no mercado - desde que proceda sempre com a diligência descrita.

Ora, a própria necessidade de se ter feito a negociata com Manuel Fino, indica que a CGD não terá procedido com essa deligência, pois se tivesse iria sempre vender (ou absorver) os titulos fruto da garantia a preços de mercado, e não teria que dar opções de compra a ninguém.

Portanto, ou esta negociata foi conscientemente ruinosa, ou a necessidade de proceder a esta negociata nasceu de incompetência na concessão de crédito e gestão das margens de segurança.

(via Think Finance)

O pior é que como Fino, estarão certamente outros (Berardo, Teixeira Duarte, Moniz da Maia...). Quanto tempo faltará até a Caixa ficar com a colecção de arte do Comendador?

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