Passo a transcrever excertos de um texto da Dr.ª Ana Gomes na edição de hoje da revista Pública, acerca do "desencontro entre as elevadas qualificações e os salários".
"(...) São jovens com idades a rondar os 30 anos (...) cresceram sob a máxima que os estudos eram o mais eficaz meio para usufruir de uma vida adulta financeiramente desafogada.
(...) Lá completaram a formação superior, somando frequentemente à licenciatura mestrados, pós-graduações ou mesmo doutoramentos. Para engrossar ainda mais o currículo, fizeram cursos (...), formações especializadas (...) e ateliers diversos que reforçassem o seu "know how" e cultura geral. Hoje não resistem a perguntar-se: "para quê?".
(...) Os "mileuristas" estão longe do salário mínimo nacional mas também se posicionam muito aquém do conforto económico que as suas habilitações prometiam. São uma nova classe social, ensinada a aproveitar o dia-a-dia e que não quer abdicar de uma certa qualidade de vida que aprendeu a usufruir em casa dos pais. Por isso, muitas vezes adiam a saída do lar paternal, desalentados pelo elevado valor de venda das casas e pelas exorbitantes quantias do arrendamento imobiliário. Adiam igualmente a chegada de filhos, meta considerada alcançável apenas depois de atingida alguma estabilidade económica que tarda em bater à porta.
E de adiamento em adiamento, a juventude vai ficando para traz e o futuro dourado que as habilitações académicas prometiam nunca mais chega. (...) a que se somam factores como a precariedade laboral e o excesso de licenciados que o mercado de trabalho não consegue absorver. E nem o mais longínquo futuro lhes sorri, numa altura em que se multiplicam as vozes que alertam sobre a falência do Estado Previdência e a possibilidade de (...) poder vir a não usufruir das pensões de reforma a que teriam direito com base nos descontos que fazem mensalmente."
Como tudo isto me foi soando a familiar (infelizmente).
Ficam algumas sugestões que poderiam ajudar a melhorar a (nossa) situação: excelência no ensino superior, virado para o mercado empresarial; fomentação e estabelecimento de reais condições para empreendedorismo jovem, com criação de empregos e mais-valias (i.e., produtividade); alternativas de formação adequadas para quem quer entrar no mercado de trabalho mais cedo, prescindindo do ensino superior (embora arriscando-me a ser polémico, considero que este não deve ser para todos); pré-reforma dos actuais empresários de baixas qualificações e "vistas curtas" que vamos tendo no tecido empresarial português...
domingo, 23 de dezembro de 2007
Os "mileuristas"
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