terça-feira, 24 de março de 2009

Um estudo da OCDE sobre Educação*

Já estão disponíveis os resultados do estudo "Education at a Glance 2008". Alguns dos resultados apresentados deveriam fazer corar de vergonha o Ministério da Educação... E os sindicatos.

Aparentemente em Portugal boa parte dos Encarregados de Educação estão pouco satisfeitos com competência e dedicação dos professores:


E pelos vistos também não se encontram satisfeitos com os métodos utilizados na escola:

E o que pensam os Pais portugueses quando questionados pela OCDE sobre a monitorização do progresso dos seus filhos nas escolas? Nada de muito positivo:


Os Pais também se sentem pouco informados acerca do progresso dos seus filhos. Eventualmente este facto poderá explicar porque razão os Pais acham os professores, regra geral pouco dedicados e competentes.



Será que o porblema é falta de dinheiro? Pelos vistos não, pois gastamos percentualmente tanto como a Finlândia, que segundo os testes PISA apresenta os melhores resultados de entre diversos países da OCDE.



Se não é por falta de dinheiro, será devido ao número excessivo de alunos por turma? Bom, nesse aspecto até não estamos nada mal: o nosso rácio de alunos por turma é inferior à média dos restantes países. Quando nos comparamos com a Coreia, por exemplo, a diferença é significativa:





Se o problema não está nos gastos em Educação, nem no excesso de alunos por turma, fica a dúvida: Porque será que num país em que os professores recebem comparativamente mais do que em boa parte dos países da ODCE (basta olhar para o nosso caso e para o Finlandês, e para os resultados de ambos os países), os encarregados de educação estão menos satisfeitos com a competência e dedicação dos professores dos seus alunos?




Os professores na Islândia e na Dinamarca trabalham em média mais horas por ano do que os professores portugueses: 1.680 horas por ano no caso da Dinamarca e 1.800 horas anuais no caso da Islândia. Em Portugal ficamos-nos pelas 1.440 horas:




Resumindo:


1 - Os encarregados de educação dos países nórdicos, que tanto gostamos de elogiar e copiar, são os que mais valorizam a competência e dedicação dos professores dos seus alunos. São também aqueles que consideram que a escola cumpre melhor o seu papel e que os mantém informados acerca do progresso escolar dos seus filhos.

2 - O número de alunos por turma é, em Portugal, inferior a 20 o que se situa abaixo da média da OCDE, portanto não é por termos turmas apinhadas que os nossos alunos não são capazes de aprender.

3 - O país gasta, em termos de % do PIB, uma quantidade enorme de dinheiro face aos resultados obtidos, que em geral são fracos. Os nossos professores têm ordenados relativamente elevados quando comparados com os congéneres Dinamarqueses ou Finlandeses, para um número de horas de trabalho inferior, o que faz com que as disparidades salariais sejam ainda maiores.

Se calhar fazíamos bem em começar a discutir estes assuntos, ao invés de progressões nas carreiras, "banha da cobra" vendida como Estudos da OCDE ou de estatísticas facilitistas para UE ver...

Continuarei a dissertar sobre este tema em posts futuros.


Disclaimer: Estas imagens foram retiradas do fórum Think Finance, e texto elaborado com base num trabálho notável do Tiago Santos.


*E este é mesmo da autoria da OCDE

3 comentários:

grão de pó disse...

falta a questão do acompanhamento parental à progressão dos estudos dos filhos.
pais pouco informados? e a sub-pergunta: vai às reuniões?

professores pouco competentes / dedicados? onde está a medida de educação dada em casa e (pelo menos um pouco) reguladora do comportamento?

sem querer tirar qualquer validade ao teu post, pedro, mas estes assuntos são demasiado transversais à sociedade para poderem ser convertidos em números.

a educação está a cair no ridículo, de tão facilitista e desautorizada que se tem tornado. se calhar é só um reflexo do global...

Anónimo disse...

Falei inicialmente sobre a questão dos gastos e dos professores porque, a par com os maus resultados, existem dados analisáveis. E o que é que estes dizem?

1) Com uma percentagem do PIB, investida no sistema educativo público, vastamente, superior em Portugal em relação à Finlândia;

2)Com uma carga horária superior;

3)Com salários superiores em percentagem do PIB;

O sistema educativo público português é mau. Claramente, a produtividade dos professores Portugueses é infíma ao pé dos Finlandeses.

Para mim, este é o um problema. Não é o único problema, longe disso. Já apontaste alguns: falta de acompanhamento em casa, desinteresse dos pais por parte da educação dos filhos, falta de valorização do ensino por parte da sociedade... Outro problema relaciona-se com a indisciplina dos alunos. Na Finlândia os alunos portam-se bem e respeitam a autoridade do Professor. Cá não. E eu não acredito que as crianças Portuguesas sejam piores do que as Finlandesas. Mas algo se passa, pois presentemente a indisciplina de um aluno dá status a esse aluno entre o grupo de colegas, e é preciso alterar essa dinâmica fazendo com que quem pratique actos de indisciplina fique humilhado perante o grupo, perca status. Serão os regulamentos disciplinares demasiado permissivos? Talvez seja uma das coisas mais urgentes a mudar: o regulamento disciplinar.

A escola é uma instituição de igualdade. De equalização social. Mas não é uma instituição de solidariedade social. De assistência social. O poder do professor, na sala de aula, tem que ser próximo do absoluto. Mas sendo tão grande, também tem que ser administrado com muita prudência. Como é que os alunos podem respeitar os professores se estes em muitos casos não se dão ao respeito (exemplo: quando um grupo de professores incitam os seus alunos a atirar ovos à Ministra da Educação...)?

Mas estou como tu... Quero um sistema público de ensino, vastamente, superior ao que temos.

grão de pó disse...

um regulamento disciplinar mais exigente, por si só, não trará grandes mudanças, se não houver um alteração de postura global. esta postura tem que ser iniciada em casa, ao nível da comunidade familiar.
quando ouço frases como: ah, veja lá se o acalma que já não sei o que lhe fazer relativamente a crianças do pré-escolar, assusto-me. há uma constante desresponsabilização, parida por um sistema individualista e numérico, que mais parece um polvo, tendo em conta suas as implicações nos mais variados sectores.
a rebeldia como factor de sucesso era algo que já existia quando tu e eu estudámos. a diferença é que, maioritariamente, quando se asneirava na sala havia direito repreensão posterior por parte da entidade parental.
a insuborninação actual está perfeitamente almofadada nas tendências de fazer do professor um palhaço que não tem qualquer autoridade para mandar a minha filha desligar o telemóvel. exagerando, quero chegar ao ponto em que essa instituição de igualdade só ganhará raízes quando toda a estrutura social parar para pensar e alterar comportamentos.
o que, em última análise, pode ser francamente ajudado por uma definição de prioridades no que seja a evolução da sociedade.