quarta-feira, 28 de maio de 2008

Aumento dos combustíveis (III)

É claramente o tema do momento, aqui para o je... Mais uma contribuição, com a qual concordo a 100%. Se o nosso corpo empresarial tem falta de visão e não se protege de eventuais riscos associados ao aumento dos custos de matérias-primas, porque carga de água é terão de ser os contribuintes (isto é, eu e os restantes Portugueses) a pagar isso?

Estou a assistir ao debate dos candidatos à liderança do PSD e esta discussão sobre o apoio que se deve dar aos sectores mais dependentes dos combustíveis fez-me ter vontade de escrever sobre algo que ando há semanas para escrever.


Como é que é possível que empresas de grande dimensão não façam cobertura de risco? Se eu tenho uma empresa de camionagem com um volume de negócios de milhões de euros e em que a esmagadora parte dos meus custos vem de combustível, não é lógico que se faça a cobertura do risco de variação dos preços de combustíveis? Aquela pequenina percentagem que teriam que gastar no mercado de futuros não lhes garantia uma vida tranquila, sem estes riscos de falência que tantos dizem que correm? E as companhias de aviação? E as grandes companhias de pesca?

A verdade é que o que costuma acontecer é o seguinte. O Crude está a 30 e quando atinge os 60, alguém dentro da empresa se lembra de dizer: "Isto está complicado, devíamos ter feito uma cobertura no mercado de futuros. Só que agora já subiu tanto vamos fazer a cobertura de risco na pior altura. Esqueçam". E depois o crude duplica de valor e a empresa diz que corre o risco de fechar portas...

O mesmo que digo para o crude, digo para as empresas exportadoras em relação à valorização brutal do euro face ao dólar. Quantas exportadoras estão em grandes dificuldades devido a esta valorização do euro. E cobertura cambial, é só para os livros?

Não deixa de ser curioso ver o mundo inteiro a culpar o mercado de futuros (e os seus especuladores) pela subida meteórica do preço do crude e depois esquecerem-se que uma das razões pelas quais foi criado o mercado de futuro foi mesmo para fazer esta cobertura cambial.

Estranho mundo este.

Ulisses Pereira, in Caldeirão de Bolsa

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