terça-feira, 9 de setembro de 2008

In a lonely place


In a Lonely Place, de 1950, foi um dos filmes produzidos por Humphrey Bogart através da sua produtora independente, a Santana Pictures, reflexo claro da postura anti-sistema que o actor foi desenvolvendo nos últimos tempos de carreira.

A história do filme gira em torno de Dixon Steele, um argumentista com uma crise de inspiração, homem irascível, cínico e com rasgos de violência mas com alguns traços escondidos de um romântico desencantado...personagem talhada à medida de Bogart!

A carreira de Steele está a atravessar uma fase má e o argumentista vê-se compelido a aceitar a proposta de adaptar ao grande ecrã uma novela de fraca qualidade. Depois de uma noite agitada, cansado e sem paciência para ler o livro, Steele pede a uma empregada do restaurante que frequentava que lhe conte, em traços gerais, o enredo, já que esta tinha adorado o livro. Na manhã seguinte, a rapariga é encontrada morta e Dixon Steele torna-se o principal suspeito. No entanto, Laurel Gray (Gloria Grahame) a sua vizinha da frente fornece-lhe um alibi que o mantem em liberdade. Steele e Laurel acabam por se apaixonar mas sobre os dois paira sempre uma dúvida constante: será Steele um assassino ou não?!

O filme foi exibido ontem, na Cinemateca, no âmbito de um pequeno ciclo de comemoração do 30º aniversário da morte de Ruy Belo, poeta que usou várias vezes o cinema como mote para a sua poesia.

Sou suspeita para avaliar este filme por dois motivos: primeiro, adoro os clássicos das décadas aureas de 50/60; segundo, tenho uma secreta paixão por Bogart, na sua pele de cínico e duro mas que na verdade esconde um romântico (Casablanca é e sempre será um dos filmes das minha vida)!

De qualquer forma, aqui fica a minha recomendação: o filme, em jeito de produção independente dos grandes estúdios da época, merece ser visto! Há algo de noir na forma como Dixon Steele oscila entre um registo quase terno e um registo de violência descontrolada e desmedida!! Digno de nota são também as personagens de Laurel Gray, Mel Lippman (o agente de Steele) e de Charlie Waterman (um actor decadente, que está constantemente bêbado)!!

É certo que o filme está cheio de clichés e de frases que facilmente ficam na memória, mas este diálogo pareceu-me fantástico:

Capt. Lochner: [Dixon has replied with sarcasm to Lochner's questions] You're told that the girl you were with last night was found in Benedict Canyon, murdered. Dumped from a moving car. What's your reaction? Shock? Horror? Sympathy? No - just petulance at being questioned. A couple of feeble jokes. You puzzle me, Mr. Steele.

Dixon Steele: Well, I grant you, the jokes could've been better, but I don't see why the rest should worry you - that is, unless you plan to arrest me on lack of emotion.

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