sexta-feira, 11 de julho de 2008

Para inglês ver

Tenho a dizer que o estado do tempo de hoje traduz a minha perspectiva do Pais no futuro próximo, nublado com uma forte probabilidade de chuva, ou no nosso caso concreto, estamos mal e provavelmente vamo-nos afundar.

Na minha opinião isto está relacionado com um comportamento que se traduz pela expressão "para inglês ver", que vivemos em Portugal num estado permanente. No meu local de trabalho assisto a isso, e sendo um sector estatal crítico acho abjecto tal acontecer (se por acaso morrer nos próximos dias é porque pretendo efectuar uma queixa a quem de direito).

Mas pior é o que foi hoje noticiado relativamente aos resultados dos exames nacionais de matemática do 9º ano. Face ao que eu vi do exame e aos comentários elaborados pelos professores de matemática o exame em causa foi de um facilitismo absurdo e mesmo assim o saldo final foram 44,9% de negativas. Traduzindo por miúdos significa que mesmo com uma "ajudinha" quase metade dos alunos não é capaz de passar a matemática, e isso é grave, e deixa-me lixado (para não utilizar outro verbo). Devo admitir que vindo de um sistema de ensino estrangeiro isto tudo me parece algo estranho, do mesmo modo que não compreendo como é possível alguém acabar o secundário e candidatar-se à faculdade com nota final 20, quanto mais várias pessoas por ano ficarem nessa situação (claramente devemos ser um povo especial porque tal não ocorre com tanta frequência nos restantes países da Europa).

A nossa sociedade vive numa falácia em que se utilizam diversas artimanhas para simular um estado da nação muito melhor do que o existente.É preciso uma injecção de honestidade no sistema porque senão não saímos da cepa torta.

Hoje estou triste com o pais em que vivo e acho que vocês também deveriam estar. Notem que digo isto não no sentido de "Abaixo o governo" mas sim no sentido "Abaixo a mentalidade mesquinha portuguesa". Queremos ser grandes, ser campeões da Europa em futebol, apresentar factores de crescimento equiparáveis ao resto da UE e no entanto vivemos na mediocridade não só económica mas também intelectual.

Expliquem-me, vocês políticos, qual a razão dos programas e livros do ensino (seja ele qual for) mudam todos os anos?Será que a matemática a esse nível muda de ano para ano, ou a física, ou a química...?

Quando conseguirem responder a esta questão temos um principio sobre o qual podemos começar a trabalhar. Sem bases não se pode avançar.

3 comentários:

grão de pó disse...

e honestidade é compatível com o exercício de poder?

ou melhor, até que ponto está a honestidade alinhada com o "instinto de sobrevivência" e a necessidade intrínseca de subir hierarquicamente?

sem querer subverter demasiado o conteúdo do post (com o qual concordo) na malha da filosofia de bolso, a solução - aparentemente simples - de injecção de honestidade soa-me tão exequível como a conquista do el dorado.

Teco disse...

De facto tenho consciência que o pedir honestidade é o mesmo que pedir para pintarem o céu de cor de rosa com coelhinhos amarelos e laranjas a jogarem ping-pong. No entanto acho que relativamente à educação deveria existir um pacto entre TODOS os partidos com representatividade para conseguir dar ao ensino a estabilidade que lhes têm faltado.

grão de pó disse...

não é só na educação que falta a definição de um objectivo comum a todas as cores políticas.

sem querer ser derrotista, contudo, como é que isso se consegue em estruturas sociais com milhões de pessoas?

o "bem comum" entrevisto por alguns tende depressa a cair no excesso de autoritarismo. no entanto, as sociedades são dinâmicas, assim como os equilíbrios dentro delas, pelo que estabilidade tem que ser um conceito flexível.
ora a mim isto soa-me, novamente, a água e azeite no mesmo pote...