Ontem, os tanques israelitas entraram em Gaza. Saeb Erakat, um dos mais conhecidos negociadores da Fatah, disse à CNN: “Com o quê querem eles [os israelitas] acabar? Não temos [os palestinianos] Exército. Não temos Marinha. Não temos Força Aérea (…). Este problema exige soluções políticas, não soluções militares.” Erakat não falou para a CNN em Gaza. É que ele, sendo da Fatah, não conseguiu encontrar soluções políticas para estar em Gaza. O Hamas arranjou soluções militares para expulsar Saeb Erakat e os da Fatah de Gaza.
O escritor Amos Oz é israelita e não é um falcão, foi um dos fundadores da organização pacifista Schalom Achschaw (Paz Agora). Dias antes da actual ofensiva terrestre israelita, Oz também foi entrevistado: “Vai haver muita pressão sobre Israel pedindo-lhe contenção. Mas não vai haver nenhuma pressão sobre o Hamas, porque não existe ninguém para os pressionar. Israel é um país; o Hamas é um gangue. Os cálculos do Hamas são simples, cínicos e pérfidos: se morrerem israelitas inocentes, isso é bom; se morrerem palestinianos inocentes, é ainda melhor. Israel deve agir sabiamente contra esta posição e não responder irreflectidamente, no calor da acção”, disse Amos Oz.
Dois discursos de gente de braços atados, do palestiniano Saeb Erakat e do israelita Amos Oz. Um sabe que o seu povo vai apanhar com tanques (como esteve, durante dias, apanhando com bombardeamentos aéreos), sem ter Exército, Marinha e Força Aérea para se defender. O outro sabe que o seu país tem direito a defender-se, mas teme que essa defesa aumente a força do inimigo.
Não estou aqui a fazer de Pilatos, não lavo as mãos da questão. Estou absolutamente ao lado de Amos Oz. E sobre a intervenção dos tanques israelitas julgo-a pela eficácia que venha a ter. Se ela acabar com a flagelação (70 rockets e mísseis diários sobre cidades de Israel), irei considerá-la, à ofensiva israelita, uma boa acção. Se ela acabar de vez com o Hamas, o gangue, hei-de considerá-la uma excelente acção. Mas, infelizmente, temo que os tanques não venham a ser eficazes. Conheço a táctica do gangue. Refugiam-se atrás dos homens, mulheres e crianças inocentes, cuja morte - com os corpos passeados em histeria - é a sua melhor propaganda.
Reparo que Saeb Erakat não faz, como previu Amos Oz, pressão sobre o Hamas. Na verdade, eu também, como se viu acima, não faço pressão sobre Israel - sou solidário com ele. E, sobretudo, estou incondicionalmente ao lado de gente como Amos Oz, dos que consideram que morrerem israelitas e palestinianos inocentes é mau. Sabendo, digo-o com cálculos simples, cínicos e não pérfidos, que essas mortes inocentes só cessarão quando se matarem alguns, ou muitos (os que forem preciso), maus.
Crónica de Ferreira Fernandes, no DN de hoje.
domingo, 4 de janeiro de 2009
A ler
Publicado por Anónimo às 20:43
Etiquetas: Internacional, Media, Opinões
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2 comentários:
sem comentarios. apenas um conselho leia ana gomes hoje no causa nossa.
Já li os dois artigos de AG, e penso que não chocam com o que aqui é dito: a acção dos Falcões Israelitas e do Hamas é condenável e impedirá qualquer solução política para este conflito. Da mesma forma que não confundo o povo Palestinano com o Hamas (por ingenuidade ou desespero, os primeiros tornaram-se reféns dos segundos na faixa de Gaza), também não confundo os Israelitas com a ala dura do Likud.
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