terça-feira, 30 de outubro de 2007

Escola Pública vs. Privada

Acerca deste tema, recomendo vivamente a leitura dos posts de Pedro Sales no Zero de Conduta:

A Distopia Liberal da Escola Pública I, II, III e IV

"O colégio São João de Brito é da Companhia de Jesus, a qual tem mais duas escolas com ensino secundário. O Instituto Nun´Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache - Coimbra. Como acontece com quase todas as escolas privadas no interior, têm um contrato de associação com o Estado. Ao contrário do São João de Brito, recebem alunos de todas as classes sociais. A Companhia de Jesus afirma que os métodos de ensino, contratação e formação de professores são idênticos. Quais são, então, os resultados? O Nun´Álvares ficou em 177.º, a Imaculada Conceição em 91.º. Há quatro anos, ficaram em 164.º e 249.º, respectivamente. O São João de Brito, com os mesmos métodos pedagógicos e de ensino, ficou este ano em 3.º no ranking e, há quatro anos, foi a"melhor" escola...

Questionado, na altura, pelo "Público" sobre essa brutal disparidade entre uma escola que recruta os seus alunos entre a elite da elite e dois colégios privados com todo o tipo de estudantes, o responsável pelo São João de Brito diz que “o Colégio de Coimbra fica num meio paupérrimo”. “é um meio rural, com fraco nível cultural. Teríamos outra posição no ranking se estivéssemos mais perto de Coimbra”. Pois é, teria a Companhia de Jesus e a escola secundária de Alpiarça ou a de Campo Maior. Mas não têm, o que não as impede de ver na comunicação social que as escolas privadas são melhores do que as públicas. Uma leitura redutora que, como se vê, tem os seus dias. Ou melhor, os seus sítios e classes sociais."

Recomendo também a leitura integral da entrevista dada hoje ao DN pela Ministra da Educação Maria de Lurdes
Rodrigues, da qual destaco estes pontos lapidares:

"Mas há uma enorme diferença
entre as públicas e as privadas: a possibilidade de escolha dos alunos. Uma escola pública está obrigada a receber todos os alunos da área geográfica, não pode accionar nehum mecanismo de selecção dos melhores nem de deixar para trás ou não levar a exame os alunos com maior dificuldade. Isso faz toda a diferença.[...]

[...]Mesmo considerando que temos meia dúzia de escolas [privadas] boas, os alunos não cabem lá todos. Por isso, não é possível o princípio de liberdade de escolha, nem é possível essa "valentia" dos privados de quererem tomar conta dos alunos. A liberdade de escolha é uma bandeira usada pela Direita em que a liberdade de escolha serve sempre para os mesmos. Porque alguns não a têm e continuam a não ter. O desafio é dar um ensino público de qualidade a todos."


PS- Estudei na Escola Preparatória Pedro D'Orey da Cunha e na Escola Secundária D. João V, ambas na Damaia, e ambas com um número de alunos problemáticos bem acima da média nacional. Alguns deles alunos foram meus colegas de turma.

O enquadramento social menos favorável destas escolas não me impediu de terminar o ensino secundário com 15 valores e ingressar na Universidade Nova de Lisboa, onde me licenciei em Eng.ª do Ambiente em 2004 (curiosamente também com 15 valores).

Existem coisas a melhorar na escola pública (maior estabilidade do corpo docente, coerência nas das políticas de ensino sem reformas novas todos os anos, maior envolvimento dos pais no processo de aprendizagem, maior responsabilização e exigência aos alunos...), mas não resolvemos o problema ao privatizar o ensino.

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