quarta-feira, 18 de junho de 2008

Os Livros no Parque

Este ano apenas fui uma vez à Feira do Livro mas, além dos 3 livros que comprei nessa minha incursão presencial pelo Parque Eduardo VII, muitas mais foram as encomendas que fiz a terceiros!

Estava a arrumar alguns desses livros na estante e a escolher qual o próximo que iria ler, quando encontro entre eles um pequeno caderno de textos de autores diversos, reunidos em defesa da localização da Feira do Livro no Parque Eduardo VII.

Entre eles consta o seguinte texto de Mário de Carvalho, que passo a transcrever por me ter enchido a alma com o cheiro a livros e a vista sobre o Tejo que se estende diante de nós quando olhamos para sul, além Marquês:

"Gosto de melros, os espertotes, ladinos, com aquele jeito preto de recalcitrar de lado. Há poucos pelas relvas de Lisboa, não sei se da concorrência de pardais fura-vidas e de pombalhões abafa-espaços, se de uma vontade de saltitar ao de leve por outras bandas.

Ainda assim, aparecem uns tantos pela feira do livro, a lavrar no parque. Negrejam aos picos no verde, dão-se a uns desenfados de voejo breve, armados em superiores. Bonito bicho, de muita inspiração literária. Ele é o Jean-Baptiste Clément, ele é o Junqueiro...

Não há melros num espaço fechado, num armazém tristonho e esquadrinhado de encontrões sem sol. Todos os anos aquele para-baixo e para-cima, os encontros de fulano e cicrano, as capas que amadurecem de ano para ano, a luz explosiva de Lisboa, os revérberos, o Marquês que medita, as frondes da avenida, o Tejo glauco a fechar as vistas.

Tenho estado em salões, por essa Europa. Salões, salas grandes, com o seu quê de fábrica e hangar. Em parte nenhuma há esta cor, esta brisa, este céu, esta expansão clara, esta alegria. Mude-se o que houver a mudar. O espaço, deixar estar."


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