Este é um assunto bastante caro para mim, uma vez que um dos estágios curriculares que realizei durante o curso foi precisamente no Cemitério de Carnide, para a Divisão de Gestão Cemiterial da C.M.L. em 2004. A reportagem está boa, embora um pouco simplista.
Este cemitério foi introduzido em Portugal sob um conceito inovador, que incluia a abundância de espaços verdes e um design "à americana". Contudo, este conceito traz consigo um problema: é necessário consumir água de rega em quantidades significativas.
Uma das tarefas que me atribuíram foi a avaliação da aptidão do aquífero subterrâneo localizado neste local para a rega dos espaços verdes, não só como forma de poupar água, mas também para mitigar o excessivo teor de água presente nas áreas de inumação (que na altura se pensava ser proveniente do elevado nível freático do aquífero) que em conjunto com o teor argiloso dos solos, contribuíam decisivamente para a não decomposição dos corpos.
O desenvolvimento dos trabalhos acabou por contrariar esta intenção, pois o excesso de água não provinha da subida do nível freático do aquífero. Pelo contrário, eram as próprias práticas de rega levadas a cabo no cemitério, conjuntamente com a baixa permeabilidade dos solos locais, que levavam à existência de uma excessiva quantidade de água nos terrenos. Esta água nem sequer chegava ao nível do sistema de drenagem profunda que era suposto fazer o escoamento até aos colectores municipais de águas pluviais (que apenas encaminhavam a água proveniente do lago central que se vê na reportagem).
O carácter argiloso dos solos era portanto um factor muito mais problemático do que o aquífero, como pude constatar in loco aquando da abertura de uma vala. A descontinuidade no terreno assim originada conduzia a que a água tivesse naturalmente tendência para ocupar estes espaços e a se manter por lá durante meses, como se estivesse dentro de um copo.
Para a resolução deste problema concluiu-se que seria necessário considerar outro tipo de soluções, como por exemplo, um sistema de drenagem superficial constituído por canais entre as campas, preenchidos com material poroso (por exemplo, brita). Quando terminei o estágio, já tinha sido transportada para o cemitério uma grande quantidade de brita, e previam-se para breve as obras de construção do sistema de drenagem. Quando lá voltei passado alguns meses, o monte de brita ainda se encontrava no mesmo local. Fico com a sensação que, se lá voltar, provavelmente ainda irei deparar-me com ele.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Cemitério de Carnide conserva corpos
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4 comentários:
É?!...
Este é só um dos muitos problemas que Lisboa herdou do falecido Abecassis o tal Cruz com k... Agora o que me deixa com a pulga atrás da orelha é se houve estudos previos como é que a obra andou?
Andou. Não funciona mas sabem a solução para o problema então porque não resolvem?
E custou aquilo na época seis milhões de euros?
O problema do Cemitério de Carnide é obvio,passando pela arquitecta que manda nos espaços verdes e seus acessores que para além de não entenderem muito bem como funciona um cemitério, devem ter vergonha de perguntar ou até fazer um inquérito a pessoas com vasta experiencia no Sector(Canteiros experientes,Coveiros,Encarregados com muitos anos de actividade).
Essa tal inovação "à americana" e um desenho de cemitério que na minha prespectiva é "cinzento" e para espaços verdes falta-lhe sombras do tipo arvores,(será que não aprendem com os cemitérios antigos?)esqueceram-se que aquele desenho tipo "escadaria" iria de alguma forma prender as aguas das regas e das chuvas, mais o problema da terra que utilizaram para prender as terras dentro de um autentico "tanque"...isto em relacção a decomposição de corpos...mas não é só isso,será qu efui só eu que reparei nas portas de os~´ario feitas em ferro??? obvio no primeiro ano ficaram cheias de oxidação...
Perguntar a pessoas com experiencia não custava nada...como eu gostava de mudar certas coisas
Caro Miguel o terrreno para o Cemit Carnide foi escolhido pelo no tempo do Eng Abecassis, projectado na mesma altura, por pessoas que aprofundaram os seus conhecimentos. Foram feitos estudos hidrogeológicos, foi construida drenagem de fundo para q a àgua lá n permanecesse, foram estudadas em laboratório misturas de terreno adequadas à função, para substituir os naturais do local. Lamentavelmente o empreiteiro colocou lá terras argilosas entre outras coisas!Implementou-se a diminuição das regas e deste modo os corpos estão a decompor-se sem ter que se recorrer a outras medidas.qto às portas, o material escolhido foi propositado - aço corten - cuja característica é ter o aspecto envelhecido. Qto aos canteiros, eles defendem o seu negócio sem se importarem com o facto de a pedra ser um bem escasso na natureza e não pode continuar a manter-se a situação tradicional - cada vez q a famíla traslada um resto mortal, parte-se a porta e põe-se outra nova.
Em 2000, por morte de um familiar,adquirimos uma sepultura perpétua no cemitério de Carnide.
Ficámos sujeitos aos formalismos impostos e a um prazo reduzido para o arranjo em pedra, modelo fornecido pela arquitecta.
Por ser no início, foi complicado obter o projecto e mandar executá-lo no prazo estipulado.
Tudo isso teve custos significativos acrescidos ao elevado custo da sepultura.
Face à presente situação, seria adequado a Câmara informar os proprietários de sepulturas perpétuas relativamente à forma de compensação prevista, uma vez que, se necessário, não poderão utilizá-las.
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